Sua empresa não precisa de mais ferramentas de segurança — precisa de algo a mais

A verdadeira vulnerabilidade das empresas não está nas brechas técnicas, mas na ausência de direção, prioridades e propósito na gestão da segurança.

11/9/2025

A ilusão da segurança como checklist

A maior falha de segurança de uma empresa raramente está nas brechas técnicas. Está na falta de gestão — e, principalmente, na falta de direção, essas duas são as principais causas raízes das falhas técnicas. Em muitas organizações, segurança da informação ainda é tratada como um conjunto de tarefas operacionais, uma lista interminável de controles que precisam “ser feitos”. Mas lista de tarefas não é gestão. Ela cria movimento, mas não cria avanço. Executar muito não significa evoluir, e o que falta à maioria das empresas não é ferramenta, é propósito em relação a segurança da informação.

Quando pergunto a um gestor como está a segurança da informação, quase sempre a resposta vem em forma de marcas e soluções: “Temos firewall, antivírus, EDR, backup, controle de acesso.” É um catálogo de ferramentas, não um plano. O problema é que, sem clareza sobre onde se quer chegar, qualquer ferramenta parece boa — e todas passam a ocupar o mesmo espaço. É o sintoma clássico de quem confunde ter controles com estar protegido.

Em muitos casos, o que existe é uma espécie de “pacote de segurança genérico”, construído a partir de frameworks como a ISO 27001, o NIST ou o CIS. A consultoria entrega uma lista linear de controles e o gestor tenta aplicar tudo de uma vez, sem peso, sem contexto, sem priorização. O resultado é previsível: um plano extenso e ineficaz, onde todos os itens parecem importantes e nenhum se conecta a uma direção clara.

Planejar segurança é diferente de cumprir tarefas. Planejar é responder perguntas que incomodam: “O que é mais crítico para nós hoje?”, “Quais riscos realmente ameaçam o negócio?”, “O que é indispensável para continuar operando amanhã?” e responder claramente “Onde falhamos internamento hoje?”. Sem isso, qualquer esforço técnico é apenas reação. E reagir o tempo todo não é ser seguro — é viver em modo de sobrevivência.

O que pouca gente percebe é que a segurança da informação, para ser madura, precisa de visão estratégica. Assim como qualquer outra área do negócio, ela exige metas, indicadores e um norte. Enquanto essa lógica não for aplicada, as empresas continuarão comprando soluções novas para problemas antigos — acreditando que estão seguras, quando na verdade estão apenas ocupadas.

O labirinto das soluções e a ausência de direção

Nos últimos anos, o mercado de segurança se transformou em um grande parque de diversões tecnológicas. São milhares de ferramentas prometendo resolver tudo — da proteção de endpoint à detecção de anomalias em nuvem, da criptografia inteligente à análise de comportamento. Mas no meio dessa abundância, o que mais cresce não é a segurança: é a confusão. Eu ouço de muitos gestores a mesma frase: “Ricardo, é tanta solução que eu não sei mais o que fazer.” E de fato, é um dilema legítimo. Se cada fornecedor garante ser “indispensável”, como decidir o que realmente importa?

É nessa hora que o conceito de gestão mostra o seu valor. Porque quando a empresa não tem clareza sobre o destino, tudo parece prioridade. O gestor se perde entre estandes de eventos, catálogos e cotações, anotando o que “seria bom ter” — e volta para o escritório com mais dúvidas do que antes. O mercado chama isso de inovação. Eu brinco chamando de desorientação tecnológica. Afinal, sem planejamento, as decisões passam a ser guiadas por curiosidade, medo ou modismo — nunca por estratégia.

A consequência é previsível: empresas com orçamentos limitados investindo em soluções que não atacam seus principais riscos. E, ao mesmo tempo, deixando vulneráveis os pontos que realmente sustentam o negócio. Já vi isso acontecer dezenas de vezes. Um coordenador de segurança me procurou empolgado com uma ferramenta de análise de exposição na Deep Web. A solução era interessante, mas o ambiente dele ainda enfrentava problemas básicos de backup, controle de acesso e atualização de sistemas. Ou seja: queria enxergar ameaças externas enquanto ignorava as internas.

O que falta não é ferramenta, é hierarquia de decisão. É a capacidade de olhar para o mapa completo e dizer: “isso vem agora, aquilo pode esperar”. Sem isso, a operação vira uma corrida caótica para apagar incêndios — um esforço constante de resolver sintomas, sem jamais tratar a causa. Planejar segurança não é escolher ferramentas; é escolher o que faz sentido para o momento da empresa. E esse discernimento só nasce de um plano.

Os riscos: o preço da falta de gestão no dia a dia

Nas consultorias que realizo, há um padrão que se repete com precisão quase matemática. Quando mergulhamos nos ambientes das empresas, o problema não está apenas na falta de planejamento estratégico — está na ausência de gestão no dia a dia. Enquanto o gestor se preocupa em acompanhar as novas tecnologias do mercado, ninguém está olhando para a eficácia dos controles que já existem. É comum encontrar firewalls que ninguém monitora, backups que nunca foram testados e políticas de acesso que só existem no papel. O resultado é uma sensação perigosa: a de que a empresa “está segura” apenas porque comprou ferramentas.

Esse é o tipo de confiança que custa caro. Segurança não é o que está instalado; é o que está funcionando, monitorado e alinhado ao propósito do negócio. Um firewall mal gerenciado é tão inútil quanto não ter firewall algum. Um backup que não foi restaurado com sucesso é só uma esperança cara. E políticas sem auditoria são como portas trancadas com a chave pendurada na maçaneta. Não é tecnologia que falta — é disciplina de gestão.

O que nossas análises em campo mostram é que mais da metade das falhas de segurança estão ligadas a processos internos mal executados. Erros de configuração, permissões acumuladas, sistemas desatualizados, ausência de revisão de acessos, falta de documentação, mudanças sem controle. São detalhes que parecem pequenos, mas que abrem brechas imensas. E o mais preocupante é que essas falhas são evitáveis. Não exigem grandes investimentos, apenas método e acompanhamento.

Mas o que vejo com frequência é o oposto: gestores acreditando que podem “terceirizar” a maturidade. Contratam um SOC, uma consultoria ou uma nova solução e acreditam que isso resolve tudo. Só que não há tecnologia capaz de compensar a falta de gestão. Se a operação interna não tiver processos claros, responsabilidades definidas e métricas de eficácia, qualquer ferramenta se torna barulho. É o que chamo de “teatro da segurança”: controles enfileirados para a foto, mas sem direção, sem ensaio e sem resultado.

A verdadeira vulnerabilidade, portanto, não está nos sistemas — está nas decisões. E toda vez que uma empresa confunde controle com gestão, ela escolhe correr riscos que não precisaria correr. Segurança da informação não falha por falta de opção, mas por falta de prioridade. E prioridade é o que só a gestão pode definir.

De listas de tarefas para direção

Um bom diagnóstico não é uma planilha de tarefas. É um mapa. Ele mostra o caminho, o ponto em que a empresa está, o destino que quer alcançar e o que precisa ser feito para chegar lá. Quando o gestor enxerga a segurança sob essa ótica, ele deixa de perguntar “o que falta fazer?” e passa a questionar “o que faz sentido fazer agora?”. Essa mudança de mentalidade é o que separa uma operação madura de uma operação perdida em execução. Gestão é o ato de escolher — e sustentar essa escolha com propósito.

O primeiro passo é colocar peso nas ações. Nem todo controle tem a mesma importância, e nem toda falha representa o mesmo risco. O papel da gestão é transformar o diagnóstico em estratégia, e a estratégia em priorização. Isso significa entender o que é crítico, o que é relevante e o que pode esperar. Quando tudo é prioridade, a segurança se dilui. Quando há foco, cada ação ganha força, cada investimento tem retorno e cada decisão tem propósito.

Planejar segurança é, antes de tudo, um exercício de lucidez. É olhar para o ambiente e enxergar que maturidade não se compra — se constrói. Não há ferramenta que substitua a clareza de um plano bem estruturado, assim como não há checklist capaz de gerar liderança. O gestor que compreende isso começa a fazer menos, mas com muito mais impacto. E é aí que a segurança deixa de ser um custo inevitável e passa a ser um ativo de continuidade.

O que falta à maioria das empresas não é tecnologia, é coerência. Não é orçamento, é direção. Enquanto a segurança for tratada como uma sequência de tarefas, ela continuará servindo para mostrar movimento, e não resultado. A verdadeira segurança nasce quando a empresa deixa de reagir e passa a decidir. E isso não vem de uma ferramenta — vem de gestão.

No fim das contas, segurança da informação é sobre decisões. Cada escolha — o que priorizar, o que adiar, o que ignorar — revela o quanto a empresa enxerga a própria maturidade. Ferramentas mudam, ameaças evoluem, mas a clareza de gestão é o que permanece. E é isso que separa empresas ocupadas de empresas preparadas.

Por isso, eu quero te convidar a uma autorreflexão sincera sobre a sua operação.
Pense na rotina da sua empresa e responda, com honestidade:

  1. Você tem um plano de segurança — ou apenas uma lista de tarefas?

  2. Como vocês definem as prioridades de segurança aí dentro?
    Existe um método, uma lógica de decisão? Ou as escolhas são feitas porque o fornecedor “colocou medo” e parecia urgente?

  3. E se você tivesse que começar hoje um plano do zero, qual seria o seu primeiro passo? Gestão? Processo? Ferramenta?

As respostas para essas perguntas dizem muito mais sobre a sua segurança do que qualquer relatório técnico. Elas revelam o nível de maturidade da sua operação — e, principalmente, o quanto a sua empresa realmente está no controle da própria segurança.

E agora, eu quero ouvir de você.
👉 Fez sentido esse olhar sobre gestão e segurança?
👉 Como a sua empresa tem definido o que é prioridade?